ID-100311988Quando ouço pessoas falando que a solução para a insatisfação com o trabalho ou a carreira é virar a página e começar do zero, não fico muito confortável. É claro que, como eu, você deve conhecer várias pessoas que realmente conseguiram realizar essa mudança em suas vidas, muitas através de uma transição lenta e estruturada, algumas num curto espaço de tempo. E também conhece quem tentou e, por alguma razão, voltou à estaca zero ou ao estado original, ficando mais desmotivado ainda no processo.

É por isso que tenho muita cautela em abordar o assunto. A situação de vida de cada pessoa é única, bem como seu perfil pessoal. Nem tudo o que funciona para um, funciona para o outro.

Tenho mais de 20 anos estudando sobre espiritualidade e filosofia de vida, já fiz vários cursos e iniciações e faço parte de um grupo de iniciados nos ensinamentos da GFB a mais de 10 anos. Também gosto muito dos ensinamentos de Eckhart Tolle e Paramhansa Yogananda, que estão alinhados com vários dos ensinamentos da GFB. Além de me apaixonar pelo método de coaching de Timothy Gallwey (o precursor do coaching), que contém várias das premissas que encontramos nesses ensinamentos.

Com base em tudo o que aprendi nesses anos de estudo, descobri uma coisa fundamental: não são os acontecimentos da vida que nos trazem infelicidade. O que acontece, acontece e não podemos fazer nada a respeito na maioria das vezes. Mas nós temos controle sobre todo o resto.

É o Princípio 90/10. Segundo Stephen Covey, apenas 10% da vida são os acontecimentos sobre os quais não temos controle. Já os outros 90% representam a forma como reagimos aos 10%.

Com base nesse princípio fica fácil de entender porque eu insisto na felicidade como algo que podemos aprender a criar na nossa vida, seja qual for a vida que estivermos vivendo. Sei que muitas pessoas não acreditam nessa perspectiva, mas isso se deve muito à cultura consumista, que coloca a satisfação intangível em produtos tangíveis.

Mas assim como o rio sempre corre para o mar, a sua missão sempre encontrará formas de se manifestar. O que pode significar grandes mudanças e adaptações.

O caminho que seguimos nem sempre é claro. Por isso o mais importante é se colocar em movimento, rumo a um objetivo em que se acredite, mas sem colocar todas as nossas expectativas na chegada.

O Bhagavad Gita, um dos textos mais sagrados do hinduísmo, traz o momento mais crítico da disputa pelo trono entre as dinastias Kaurava e Pandava, que é uma metáfora para ilustrar a batalha que ocorre dentro de nós a cada dia. Nela, Krishna – que representa a Divindade – surge no momento que antecede a batalha e transmite Sua mensagem ao guerreiro Arjuna. Quero ressaltar um dos pontos que se aplica ao presente tema:

9. Ó Arjuna, quando alguém executa seu dever prescrito só porque deve ser feito, e renuncia a toda a associação material e a todo o apego ao fruto, diz-se que sua renúncia está no modo da bondade. 10. O renunciante inteligente, situado no modo da bondade, que não detesta o trabalho inauspicioso nem se apega ao trabalho auspicioso, não tem nenhuma dúvida sobre o trabalho. 11. De fato, é impossível para um ser corporificado renunciar a todas as atividades. Mas quem renuncia aos frutos da ação é que renunciou de verdade.

CAPÍTULO XVIII: A Perfeição da Renúncia

Esse trecho pode ser interpretado de várias formas. Uma delas é o conceito de plantar para que os outros colham. Ou seja, é fazer o que é necessário, sem esperar retorno ou reconhecimento, mas sabendo que a sua contribuição afetará quem vier depois de você.

Um conceito muito espiritual? Nem tanto. Basta ver que os principais problemas no mundo vem exatamente do excesso de “toma lá – dá cá”. A maioria das pessoas só faz alguma coisa esperando ganhar algo com isso. Enquanto isso, os que já ganham sequem influenciando para a direção que mais os convém, mesmo que seja a direção errada.

É claro que essa abordagem exige um certo nível de desenvolvimento espiritual, mas é só dessa forma que podemos realmente ser felizes o tempo todo.

Por isso você precisa ter muito claro na sua mente quais as razões que o fazem fazer o que faz. Precisa ter consciência das suas escolhas e saber que, mesmo que o seu trabalho hoje não satisfaça os seus anseios, está fazendo o que precisa fazer para um Bem que vai além de si mesmo. Isso é viver de propósito.

Imagem cortesia de  Serge Bertasius Photography em FreeDigitalPhotos.net